terça-feira, 12 de novembro de 2013

Vladimir Herzog




Jornalista morto pelo regime militar Vladimir Herzog
1937 - Osijsk (Iugoslávia)
25/10/1975 - São Paulo (Brasil)








Jornalista, professor da USP (Universidade de São Paulo) e teatrólogo, Vlado Herzog nasceu em 1937 na cidade de Osijsk, Iugoslávia. Filho de Zigmund Herzog e Zora Herzog, imigrou com os pais para o Brasil em 1942. A família saiu da Europa fugindo do nazismo.

Vlado foi criado em São Paulo e se naturalizou brasileiro. Fez Filosofia na USP e tornou-se jornalista do jornal O Estado de S. Paulo em 1959.


Nesta época, Vlado achava que o nome soava exótico nos trópicos e resolveu passar a assinar Vladimir. No início da década de 60, casou-se com Clarice. Com o golpe militar de 1964, o casal resolveu passar uma temporada na Inglaterra e Vladimir conseguiu trabalho na BBC de Londres. Lá, tiveram dois filhos, Ivo e André. Em 1968, a família voltou ao Brasil. Vlado trabalhou um ano em publicidade, depois na editoria de cultura da revista Visão. Em 1975, foi escolhido pelo Secretário de Cultura de SP, José Mindlin, para dirigir o jornalismo da TV Cultura.

A morte

Na noite do dia 24 de outubro de 1975, o jornalista apresentou-se na sede do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações/ Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo, para prestar esclarecimentos sobre suas ligações com o PCB (Partido Comunista Brasileiro). No dia seguinte, foi morto aos 38 anos.

Segundo a versão oficial da época, ele teria se enforcado com o cinto do macacão de presidiário. Porém, de acordo com os testemunhos de Jorge Benigno Jathay Duque Estrada e Rodolfo Konder, jornalistas presos na mesma época no DOI/CODI, Vladimir foi assassinado sob torturas.

Como Herzog era judeu, o Shevra Kadish (comitê funerário judaico) recebeu o corpo e, ao prepará-lo para o funeral, o rabino percebeu que havia marcas de tortura no corpo do jornalista, prova de que o suicídio tinha sido forjado.

Em 1978, o legista Harry Shibata confirmou haver assinado o laudo necroscópico da vítima - na qualidade de segundo perito - sem examinar ou sequer ver o corpo. Contrariando os depoimentos de torturas e violências cometidas no interior do DOI-Codi, Shibata reconheceu que esteve algumas vezes naquele órgão para medicar presos, mas que os únicos casos que constatou foram de "micoses, gripes e similares".

Enterro do Jornalista
Em 1978, a Justiça responsabilizou a União por prisão ilegal, tortura e morte do jornalista. Em 1996, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos reconheceu que Herzog foi assassinado e decidiu conceder uma indenização para sua família.

A morte de Herzog foi um marco na ditadura militar (1964 - 1985). O triste episódio paralisou as redações de todos os jornais, rádios, televisões e revistas de São Paulo. Os donos dos veículos de comunicação fizeram um acordo com os jornalistas. Todos trabalhariam apenas uma hora, para que os jornais e revistas não deixassem de circular, e as emissoras de rádio e televisão continuassem com suas programações.

No dia 31 de outubro de 1975, foi realizado um culto ecumênico em memória de Herzog na Catedral da Sé, do qual participaram 8.000 pessoas, num protesto silencioso contra o regime.

Dona Zora, a mãe de Herzog (à esquerda),
 e Clarice abraçada com os filhos Ivan (à direita) e
André no dia do velório de Vlado.
No dia 17 de outubro de 2004, o caso voltou à mídia de forma chocante. O jornal Correio Braziliense publicou supostas fotos inéditas do jornalista, nu, antes de ser morto sob custódia do Exército. Dias depois, o secretário de Direitos Humanos, ministro Nilmário Miranda, divulgou uma nota afirmando que as fotos não eram do jornalista.

Antes da revelação da autenticidade das fotos, porém, o episodio havia causado um mal-estar entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os militares, que publicaram nota dizendo que "as medidas tomadas pelas forças legais foram uma legítima resposta à violência dos que recusaram o diálogo".

Irritado, o presidente da República considerou a nota "impertinente, equivocada e inoportuna" e exigiu retratação pública do comandante da Força, general Francisco Albuquerque.

A retratação, de cinco parágrafos, teve linha oposta à nota anterior. Dizia que o Exército lamentava a morte do jornalista Vladimir Herzog e que não queria reavivar "fatos de um passado trágico que ocorreram no Brasil".

Fonte:

Instituto Vladimir Herzog 


O Instituto Vladimir Herzog foi constituído em 25 de junho de 2009 para a garantia do direito à vida e o direito à justiça.
Em setembro de 2011 o Instituto Vladimir Herzog recebeu do Ministério da Justiça a certificação de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP).

Ainda no ano de 2011, o Instituto Vladimir Herzog recebeu o Prêmio Especial de Direitos Humanos da Presidência da República – categoria Memória e Verdade, pela sua contribuição no resgate da história recente do Brasil em cerimônia com a presença da Presidenta Dilma Rousseff.
Em 2012 é criado o Vlado Educação – grupo de trabalho formado por profissionais com experiência no ensino básico. O foco de ação é o desenvolvimento de conteúdos com o tema Direitos Humanos.

Com o objetivo de proteger os profissionais de imprensa contra violências cometidas contra eles em função do desempenho da sua profissão, o Instituto Vladimir Herzog organiza o Observatório de Monitoramento de Violência com Jornalistas. Esta iniciativa dará visibilidade aos casos de ataques a jornalistas e disponibilizará assessoria jurídica aos mesmos.


A fotos que foram usadas nesse post foram encontradas usando o Google Imagens.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Torturadores da ditadura estão impunes


Vários integrantes dos órgãos de repressão da ditadura militar (1964-1985) ocupam cargos públicos atualmente

O aparato repressivo dos tempos da ditadura militar continua praticamente intacto no Brasil. Nenhum torturador foi punido, os arquivos dos porões do regime não foram abertos, o monitoramento de organizações e ativistas sociais continua e vários torturadores estão na ativa, desempenhando funções na administração pública ligadas à área da segurança pública.

No Ceará, o ex-delegado da Polícia Federal, José Armando da Costa, é o corregedor dos Órgãos de Segurança Pública do Estado. Ele é acusado de torturar presos políticos durante os anos de chumbo. Entre as atribuições do cargo que exerce atualmente está, por exemplo, a responsabilidade pela fiscalização dos casos de tortura praticados pelos policiais cearenses.

Procurado pela reportagem da Caros Amigos, Costa não quis comentar a acusação. Por intermédio de seu chefe de gabinete, o major Juarez, disse que só se manifestaria se a reportagem comparecesse pessoalmente à Corregedoria no Ceará.

O presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abraão, revela que o órgão denunciou Costa na Assembleia Legislativa do Ceará, ano passado, quando a Caravana da Anistia esteve no Estado. “Fizemos uma solicitação à Segurança Pública para que houvesse o seu desligamento do cargo.”

A Associação 64-68 de Anistia, entidade de defesa dos direitos humanos, também denunciou o ex-delegado da Polícia Federal pelo crime de tortura, mas ele continua no cargo. Mário Albuquerque, presidente da associação, conta que reencontrou Costa, em 2007, durante um evento na Federação das Indústrias do Ceará.

“Tomei um susto, mas quando a atividade terminou fui conversar com ele. Perguntei se ele tinha trabalhado na Polícia Federal do Ceará e ele desconversou: ‘Isso é coisa do passado’. Eu disse que fora preso político e ele empalideceu.” Em 1977, Albuquerque ficou pendurado em uma grade nas dependências da Polícia Federal do Ceará, das 9h às 16h, na posição de Cristo Redentor.

“Me tiraram dali e me levaram para ser interrogado por ele. O José Armando disse que se eu não falasse me mandava para a tortura novamente. Na época, o atual corregedor era delegado da Polícia Federal.

Vários presos políticos ainda têm receio de conversar sobre o assunto. “Levei 20 anos para conseguir falar sobre isso”, revela o engenheiro Júlio Lima, uma das vítimas de Costa. Preso em 1973, quando trabalhava no Banco do Nordeste, o ativista do PC do B foi torturado pessoalmente pelo atual corregedor dos Órgãos de Segurança Pública do Ceará.

“Eu estava de capuz, mas ouvia a voz dele. Até hoje, eu tenho essa voz na cabeça. O José Armando comandava a tortura. Era o comandante”, enfatiza. “Ele era tão brutal, que às vezes estava dando porrada na gente, parava o interrogatório e ligava para a esposa para dizer que estava fazendo um extra e que ia comer uma pizza.” Em 2000, Lima reencontrou seu torturador em um restaurante. “Me senti mal, mas mais tranquilo”, recorda.

As denúncias de ex-presos políticos, da associação de direitos humanos e da própria Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, contra Costa não sensibilizaram o Secretário da Segurança Pública do Ceará, Roberto Monteiro, que decidiu mantê-lo no cargo. “Pediram a sua exoneração, mas eu não exonerei. Não há nenhuma evidência de que seja um torturador da ditadura”, frisa.

O secretário elenca algumas razões para embasar sua decisão. “Nessa época ainda não existia a Lei da Tortura. Não existia o crime de tortura. Se eu colocasse alguém no pau de arara, responderia por lesão corporal.” Ele destaca também que a Lei de Anistia vigente indultou os ex-torturadores. “A anistia atingiu os dois lados, quem praticou sequestros, roubos, mortes e quem perseguiu esses esquerdistas.”

Para Monteiro, como a Lei de Tortura é de 1995, não dá para retroagir no tempo e condenar o ex-delegado pela prática do crime. “Não posso me valer dessa lei para um fato que ocorreu nos anos 70.” Além disso, ele destaca que “toda a pessoa tem direito ao devido processo legal, onde haja a devida defesa, direito ao contraditório e advogado”.

“A senhora já pensou em dar ao doutor Armando o benefício da dúvida”, questiona Monteiro à reportagem da Caros Amigos. “Eu não digo que o doutor Armando foi um torturador, no máximo foi conivente com os fatos”, conclui o secretário de Segurança Pública.

Impunidade
A não punição dos torturadores é inaceitável para o presidente Paulo Abraão. “Nós lidamos na Comissão de Anistia com os relatos dos crimes que foram cometidos. O sentimento é de um acúmulo de injustiça histórica.” Desde 2001, a Comissão já apreciou 55 mil pedidos de reparação às vítimas da ditadura militar, 30 mil foram deferidos.

A sensação de impunidade e desdém em relação aos direitos humanos também pode ser identificada no Estado de São Paulo, onde ex-torturadores também atuam diretamente na área da segurança pública.

O torturador da Operação Bandeirantes (Oban) e do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOICodi) Aparecido Laertes Calandra, acaba de ter a aposentadoria publicada no Diário Oficial do dia 13 de março. Antes disso, em 1 de janeiro de 2010, foi promovido a delegado de 1ª classe.

O capitão Ubirajara, como era conhecido nos porões do regime, ganhou projeção quando o governador tucano Geraldo Alckmin o nomeou, em 2003, para a chefia do Departamento de Inteligência da Polícia Civil paulista, órgão responsável, por exemplo, pelo serviço de escutas telefônicas.

A contragosto Alckmin teve de recuar na decisão por pressão das entidades de direitos
humanos e de ex-presos políticos torturados pelo policial. Antes de revogar a nomeação,
Alckmin chegou a declarar, no entanto, que não via nada que desabonasse a permanência de Calandra no cargo. O ex-torturador do DOI-Codi se aposentou na Unidade de Inteligência Policial do Departamento de Administração e Planejamento da Polícia Civil de São Paulo.

O deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP) é uma de suas vítimas. Ele ficou preso por 90 dias no DOI-Codi paulista. “O Calandra era um dos torturadores mais ativos. Me colocou no pau de arara, deu choques elétricos, chutes... Era um cara super-agressivo, terrível, terrível. Era chefe de equipe.”

Diogo afirma ter receio da permanência de ex-torturadores em órgãos de segurança pública. “Vejo com muito medo. Esses caras são perigosos. Minha tese é de que o aparato repressivo não foi desmontado, está intacto. A tortura continua sendo um método consagrado para a obtenção de informações.”

Ele também passou por um constrangimento na Assembleia Legislativa de São Paulo, em 2007, quando exibiu o filme do cineasta Sérgio Rezende, Lamarca, que retrata a trajetória do comandante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e ex-capitão
do exército Carlos Lamarca. Segundo o deputado, vários militares da “velha guarda” compareceram ao evento e fizeram provocações.

“Tinha um grupo de coronéis que nos ameaçou, foi barra pesada. Perguntavam por que estávamos exibindo o filme ‘sobre aquele canalha traidor’. Criticaram as pessoas do PT que tinham sido presas, chamaram de terroristas...”

Ariston Lucena, filho do ativista da VPR, Antônio Raymundo de Lucena, estava na mesa de debates do evento e também sofreu provocações da plateia. “Fiquei espantado com o tom provocativo. Era gente ligada ao esquema da repressão. Me senti intimidado.” Ariston ficou preso por nove anos. Assim como o pai, ele também pertencia ao grupo político de Lamarca. “A ação de Quitaúna (expropriação das armas do Exército feita pelo capitão) foi planejada na casa dos meus pais”, revela.

Repressão
Carlos Alberto Augusto, o Carlinhos Metralha, é delegado plantonista do Departamento de Investigações do Crime Organizado do Deic. Nos anos 70, integrou a equipe do delegado-torturador Sérgio Paranhos Fleury, no Departamento de Ordem Política e Social (Dops).

Hoje, é um dos protetores do Cabo Anselmo, militar que agia infiltrado em organizações de esquerda durante a ditadura. Anselmo entregou a própria companheira, Soledad Barret, para a morte. A paraguaia estava grávida dele quando foi assassinada junto com vários militantes da VPR, em Recife, pelas forças da repressão, após terem sidos delatados por Anselmo.

Foi de Metralha também o convite espalhado pela internet, em maio do ano passado, para o comparecimento à missa de 30 anos da morte de Fleury, que aconteceu na zona oeste da capital paulista.

Mais discreto, mas não menos truculento, Dirceu Gravina ou JC, como era conhecido nos porões em alusão a Jesus Cristo (usava cabelos compridos na época), acabou descoberto depois de ter aparecido na mídia em função de um caso que sua delegacia estava investigando. Hoje, está lotado na sede do Departamento de Polícia do interior 8, em Presidente Prudente, região oeste do Estado. O delegado também foi promovido em 01 de janeiro de 2010.

Calandra, Gravina e Augusto foram procurados pela reportagem da Caros Amigos, por meio da assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Os dois primeiros não quiseram se pronunciar, Augusto não foi localizado, porque estava de férias.

O Secretário da Segurança de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto, também não se pronunciou sobre os três casos. A assessoria de imprensa da Secretaria informou que ele não falaria porque os policiais não ocupam cargos de chefia e a Lei de Anistia permite que eles permaneçam nas funções. A Delegacia Geral de Polícia de São Paulo, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que nenhum procedimento administrativo disciplinar culminou na aplicação para a pena de demissão dos delegados.

Para o jurista Hélio Bicudo, a Lei de Anistia tem sido interpretada de maneira oportunista para abranger vítimas e algozes. “Basta uma leitura com alguma atenção para perceber que não é uma lei de duas mãos. A lei abrange apenas os adversários do regime, que foram punidos, cumpriram penas de vários anos. Agora é a vez dos torturadores.”

Segundo Bicudo, a tortura é crime contra a humanidade e, portanto, imprescritível. “Infelizmente, nossos tribunais têm falhado, os torturadores não cometeram crimes políticos. Dizem que a lei buscou a paz. Mas a paz sem justiça não existe. Enquanto não se fizer justiça, esse clamor vai continuar. Esse clamor passa pela punição dos torturadores”, frisa o jurista.

O procurador da República, Marlon Weichert, também considera inadmissível que torturadores exerçam funções públicas. O Ministério Público Federal de São Paulo move ação contra os agentes envolvidos na morte do operário Manoel Fiel Filho, assassinado sob tortura, em 1976, no DOI-Codi paulista.

Infiltração
O serviço de infiltração de agentes policiais em movimentos sociais continua a todo vapor. A prática é reconhecida, inclusive, pelo chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Wilson Roberto Trezza. Ele afirmou em outubro do ano passado, que o MST é monitorado por agentes do órgão. A Abin é a herdeira do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão de monitoramento da ditadura militar. Os arapongas que espionavam as lideranças consideradas subversivas pelo regime verde-oliva continuam abrigados na estrutura da nova agência de inteligência.

Recentemente a polícia prendeu três ativistas do MST em Santa Catarina em função desse tipo de infiltração. A ação militar foi preventiva, nenhuma propriedade havia sido ocupada, mas com base nos dados repassados pelos agentes prenderam esses militantes.

“O aparato de inteligência ainda é da época da ditadura militar, treinado pelos americanos que vêem os movimentos sociais como inimigos internos”, critica o dirigente nacional do MST, João Pedro Stedile.

Não é só o MST que é vigiado. A prática da espionagem política permeia as forças policiais, apesar de a ditadura militar ter terminado há mais de um quarto de século. O serviço reservado das polícias continua atuando para identificar as lideranças de movimentos sociais. Os P2, como são conhecidos os infiltrados da PM, acompanham até manifestações acadêmicas, que reivindicam a queda de reitor. Foi o que aconteceu na Fundação Santo André, faculdade do ABC paulista, em outubro de 2007.

“Além da infiltração de dois espiões no nosso movimento que queria derrubar o reitor Odair Bermelho, também sofremos a invasão da Tropa de Choque da PM duas vezes em um mês. Isso configura que o aparato repressivo herdado da ditadura militar está preservado”, afirma a professora e coordenadora do curso de Ciências Sociais da Fundação, Lívia Cotrim.

O sindicato dos Bancários de São Paulo também conhece de perto a prática de infiltração. Segundo o presidente da entidade, Luiz Cláudio Marcolino, os infiltrados são vistos em períodos de greve. “Geralmente andam em dupla, ficam na rua próximos às agências. Na Quadra não entram, porque controlamos o acesso exigindo apresentação do crachá.”

O Sindicato também teve acesso a uma informação inédita. O texto de um e-mail enviado pela Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) para seus dirigentes, convidava para uma reunião com a PM no dia 11 de setembro de 2009, na sede do Comando do Policiamento da Capital, localizado na rua Ribeiro de Lima, 140, na Luz. Na pauta, o planejamento de ações conjuntas diante dos movimentos grevistas em andamento no mês. Detalhe: o Sindicato dos Bancários ainda não havia deflagrado greve e estava na mesa de negociação com os dirigentes da Fenaban, o braço da Febraban para a negociação de acordos.

A assessoria de imprensa da PM confirmou que a reunião ocorreu. “Foi recebida da mesma forma que são recebidos diversos segmentos da sociedade”. A PM também confirmou que a Febraban solicitou um canal de comunicação especial, mas que a instituição negou.


Perito do laudo falso de Fiel Filho está na ativa

Ação do Ministério Público Federal quer que agentes envolvidos no assassinato do operário sejam declarados judicialmente responsáveis por violações de direitos humanos

Não são só os torturadores do passado que continuam na ativa. Ernesto Eleutério, perito criminal que lavrou o falso laudo da morte do operário Manoel Fiel Filho declarando que o trabalhador cometera suicídio, também está na ativa. Eleutério é assistente técnico da Diretoria do Instituto de Criminalística de São Paulo, comandada por Carlos do Vale Fontinhas. Desde 2005, o perito cobre férias e licenças dos funcionários do órgão.

A reportagem da Caros Amigos entrou em contato com Eleutério, por meio da assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, mas ele não quis se pronunciar sobre o caso.

Fiel Filho foi assassinado sob tortura nas dependências do Departamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), no dia 17 de janeiro de 1976, um dia após ter sido preso na fábrica onde trabalhava. O operário pertencia ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), o mesmo partido do jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, também assassinado sob tortura no DOICodi paulista, em 25 de outubro de 1975.

O assassinato de Fiel Filho foi a última morte praticada contra presos políticos na sede do DOI-Codi paulista, localizado na rua Tomás Carvalhal, 1.030, nos fundos da 36ª Delegacia de Polícia. O centro de tortura mais temido pelos ativistas políticos da época funcionava ironicamente no bairro do Paraíso.

Mas os agentes do DOI-Codi ainda fariam mais três vítimas fatais fora dos porões do regime. Em 16 dezembro de 1976, 11 meses após a morte de Fiel Filho, Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Baptista Franco Drummond, membros do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PC do B) seriam assassinados pelos militares do II Exército, quando participavam de uma reunião do partido em uma casa na Lapa, zona oeste da capital.

O episódio ficou conhecido como o Massacre da Lapa devido às características de execução no crime praticado pelos militares. A residência onde estavam reunidos os dirigentes comunistas foi metralhada, Pomar foi alvejado por aproximadamente 50 disparos.

Reparação
Uma ação ajuizada pelo Ministério Público Federal (MPF) de São Paulo, em 2009,
responsabiliza os agentes envolvidos no assassinato e na ocultação da morte do operário.

Eleutério se enquadra no segundo caso. O MPF paulista também quer que os envolvidos sejam condenados a ressarcir aos cofres públicos o valor pago pela União à família do trabalhador assassinado sob tortura.

O Ministério Público Federal também pode estar bem perto de elucidar a morte do primeiro desaparecido político da ditadura militar, o comandante da Ação de Liberação Nacional (ALN), Virgílio Gomes da Silva.

A procuradora da República, Eugênia Fávero, conseguiu identificar a quadra onde Virgílio foi enterrado no Cemitério de Vila Formosa, na zona leste de São Paulo. “Estou otimista”, comemora.

Por ser o primeiro desaparecido político do regime, Virgílio não foi enterrado na quadra destinada aos chamados “terroristas”, explica a procuradora. “Essa quadra foi desfigurada em 1975, as sepulturas foram destruídas, os ossos mexidos. Mas ele não está lá.”

Consultando os livros da administração do cemitério, Eugênia conseguiu cruzar os dados que podem levar à identificação de Virgílio. “Fizemos várias diligências ao cemitério e descobrimos que o número da ficha de encaminhamento do IML batia com o número da ficha que os movimentos de direitos humanos tinham levantado como sendo do Virgílio.”

O comandante da ALN foi enterrado como desconhecido, mas o número da ficha de encaminhamento está lá. “O problema é que as quadras de Vila Formosa têm quase duas mil sepulturas. O local é inequívoco, mas se o cadáver ainda está lá, não sabemos. Fizeram muitas exumações irregulares”, afirma.

Ela já notificou a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria Especial de Direitos Humanos para que sejam contratados arqueólogos, geólogos, antropólogos forenses para fazer o estudo da área onde podem estar os restos mortais do ativista político.

Lúcia Rodrigues é jornalista

Fonte
www.carosamigos.com.br (Especial Direita Brasileira)

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Censura na ditadura: uma política que cavou a própria cova social

"O golpe militar de 1964 trouxe mudanças para a sociedade e na política instaurando um clima de censura e repressão. Os estudantes, os movimentos sociais e políticos de artistas e intelectuais sofreram com a ação repressiva do Estado. O CPC (Centro Popular de Cultura), por exemplo, não resistiu ao golpe militar. Porém, mesmo com a intensificação da repressão após 1968, as manifestações culturais de protesto continuaram combatendo a indústria cultural que era manipulada pela política repressiva e, muitas vezes, violenta da ditadura militar. 
No âmbito musical, os anos 60 foram marcados pelo rock e pela black music que teve sua origem nos EUA em meio ao surgimento do movimento negro e da ascensão de Martin Luther King como um dos líderes desse movimento. Na Inglaterra, o rock seria representado principalmente pelos Beatles e Rolling Stones tendo uma visão mais crítica, responsável por uma juventude que tinha uma rebeldia diferenciada do público jovem nos Estados Unidos.
No Brasil, além da influência do rock inglês e norte-americano, ganhava espaço no cenário musical artistas brasileiros. Podemos notar o aparecimento de uma geração de cantores que mais tarde com o AI-5 foram exilados do país tendo sido muitas de suas canções censuradas pelo regime militar. Dentre estes artistas estão Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento, Geraldo Vandré, Nara Leão, Gilberto Gil etc.
A música de Vandré Para não dizer que não falei das flores tornou-se o hino das passeatas do movimento estudantil; outras como Aquele abraço, de Gil e Soy loco por ti América, cantada por Caetano, falavam do exílio e do guerrilheiro Che Guevara. Estes artistas continuaram influenciando os jovens na geração seguinte, principalmente o movimento Tropicalista de Gil, Caetano e Chico. Outros artistas também se destacaram como Os Mutantes, Secos e Molhados, Elis Regina e Raul Seixas.
Os estudantes estavam diretamente envolvidos e participavam destes movimentos culturais. E a geração da década seguinte herdou essa criticidade presente no teatro, na música e no cinema. Todas as manifestações culturais dos anos 60 contribuíram para que em 1968 explodissem revoltas em diversos países que contestavam a política e a sociedade."
Fonte:
http://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/BaleianaRede/Edicao06/6c_o_papel_dos_movimentos_culturais.pdf


Como é perceptível - não apenas nesse texto de Jordana de Souza Santos, mas em qualquer história, relato, artigo ou simples conversa de bar sobre o assunto - a política da ditadura militar brasileira sempre se preocupou com áreas que podem espalhar novas ideologias, desde músicas e peças até as salas de aula.

O simples fato de censurarem certa música ou peça ou o fato de prenderem – até mesmo assassinarem - um professor mostra uma insegurança imensa da parte dos governantes desse período. Isso tudo confirma que eles não tinham o apoio completo da população. Além disso, existia, tanto na música quanto no teatro, a tentativa de burlar a censura e algumas obras conseguiam chegar aos espectadores e ouvintes.  Esse movimento gerava mais pessoas descontentes com o regime e com isso a impopularidade da ditadura só aumentava.

Isso afetou a sociedade de tal forma que até hoje muitas pessoas, de diversos cunhos políticos, concordam que a ditadura militar brasileira foi um período negativo para o país. A motivação da maioria dos brasileiros ao lembrarem ou estudarem essa época, considerada um período de "trevas", é a esperança que algo parecido nunca mais aconteça no Brasil.


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Parênteses na Ditadura Militar para discutir o PRESENTE!



Após manifestação pacífica de professores, mascarados e policiais se enfrentaram no Centro nesta terça”. Essa foi uma das chamadas, encontradas no site Globo.com, para as notícias sobre a manifestação, que aconteceu no dia 15/10/13, no centro do Rio de Janeiro.
Sabemos que parece não ter nada a ver com a proposta do blog esse assunto, mas no final das contas tem tudo a ver! 190 pessoas foram detidas no final do protesto e pessoas foram conduzidas a delegacias e 43 foram autuados por crime de formação de quadrilha, a maioria sem provas sobre o envolvimento com grupos “vândalos”. 
Ficam as dúvidas: O que é vandalismo? O que é manifestante? O que é protesto? O que é baderna? O que é repressão? O que é arbitrário?
Separamos três textos achados no perfil do facebook de Ciro Oiticica, estudante de jornalismo, que foi detido após o protesto do dia dos professores na Cinelândia.
O primeiro texto foi postado antes dessa manifestação, no dia 8 de outubro. Ele fala sobre a polêmica em torno do Black Bloc.
Sobre a polêmica Black Bloc:
A gente não pode restringir a discussão a uma polarização manifestante x vândalo, da mesma maneira que é contraproducente adotar uma postura de incondicional adesão ou repúdio. Seria reproduzir o discurso oligopolista midiático. Por isso mesmo, vale questionar a pertinência irrestrita da tática black bloc.
Muitas vezes, foi necessária e ajudou o movimento: manteve os protestos vivos, visibilizou os movimentos sociais e escancarou a forma ditatorial de o Estado lidar com os cidadãos. Em outras, atrapalhou. Ontem, na minha limitada opinião, foi o caso. 
A polícia deixou que agíssemos sem qualquer intervenção. Era a oportunidade de mostrarmos que quando não tem polícia não tem confusão, que quem adota a tática é capaz também de fazer um protesto não-violento e de chamarmos a população em massa novamente pra rua. Mas mordemos a isca do Estado. E o BB fez o que condenamos nos políticos: se apropriou das capas e manchetes dos noticiários que deveriam destacar a passeata e as demandas dos educadores. Não podemos reduzir a questão política ao confronto com a polícia. 
Quem adota a tática tem que passar a pensar a organização dos atos e qualificá-los politicamente. Realizar encontros para debate, conscientização e reflexão, definir claramente a estratégia e desenvolver táticas diversificadas que se adequem às diferentes circunstâncias. 
Anarquismo é uma forma de organização que pressupõe liberdade E conscientização, responsabilidade. Não tenho visto esta segunda parte se desenvolver e corremos o risco de apenas justificar um comportamento inconsequente e individualista. Alguns dos praticantes da tática têm agido sem se preocupar com o efeito de suas ações para a mobilização e sem o consentimento dos que a integram. O coletivo precisa urgentemente ser levado em conta e pensado. 
Não existe tática sem estratégia.
O segundo texto, é uma nota lançada pela ECO/UFRJ – Escola de Comunicação da UFRJ, onde Ciro estuda, após sua prisão.
NOTA DE REPUDIO PELA PRISÃO DE ESTUDANTE DA ECO/UFRJ
A Escola de Comunicação da UFRJ repudia veementemente a atuação abusiva de policiais durante a manifestação desta terça-feira, 15 de outubro, no Rio de Janeiro, ao prenderem arbitrariamente um grupo de pessoas que estavam na área da ocupação na Cinelândia, entre as quais um estudante do Curso de Comunicação, Ciro Brito Oiticica, que cobria as cenas de conflito diante da Câmara Municipal.
Segundo testemunhas, Ciro não participou de nenhuma ação direta contra a polícia, o patrimônio público ou privado, nem resistiu à prisão. Ele estava com a identificação de colaborador do coletivo de mídia independente Rio na Rua, grupo que tem feito coberturas jornalísticas e transmissões ao vivo das manifestações recentes na cidade do Rio de Janeiro. Sua atuação é motivo de orgulho para a nossa Escola pois, através de sua contribuição para uma maior diversidade de visões jornalísticas sobre o cenário político, Ciro está cumprindo não apenas com seu papel de jornalista em formação e midialivrista mas, sobretudo, como cidadão que luta pela construção de um país democrático.
É condição elementar da democracia o respeito à liberdade de expressão e de imprensa. É fundamental entender que a atividade da imprensa não se restringe às empresas estabelecidas como tais, pois o exercício do jornalismo tem uma função social que ultrapassa de longe os limites impostos pelo mercado. Mas, sobretudo, é imprescindível exigir o respeito a todo cidadão que ouse exercer, nas ruas, seu direito de manifestação.
Rio de Janeiro, 16 de Otubro de 2013
Ivana Bentes
Direção da ECO/UFRJ
"O conteúdo das informações divulgadas no ECOpress é de responsabilidade do solicitante”
O terceiro e último texto foi escrito por Ciro e postado hoje, dia 18/10.
61 inocentes seguem presos.
Não falarei da injustiça de ter sido detido sem justificativa ou provas. 
Não falarei da arbitrariedade da prisão.
Não falarei do desespero das mães, que enfrentaram as dificuldades pessoais e a distância para verem seus filhos serem presos por lutarem pelo que acreditam. 
Não falarei de seu choro de perplexidade, sem saberem se o que sentiam era indignação por seus filhos serem tratados como bandidos ou orgulho por agirem como devem.
Não falarei da privação de liberdade, nem dos constrangimentos degradantes do sistema carcerário
Não falarei porque 61 inocentes seguem nessas condições. Os mesmos que dividiram comigo os recentes momentos de angústia e alegria ainda se vêem submetidos a abusos intoleráveis contra sua dignidade. 
Ainda não há liberdade.
Como disse Renato, a parte mais essencial de nós ficou naquelas celas. Essa parte ainda molha os pés no chão inundado pelas infiltrações, espanta inutilmente os mosquitos que impedem o sono e sonha com uma sociedade de fato. Essa parte ainda amarga a estranha sensação de ter sido presa por lutar pelo que acredita e a angústia de se culpar pelo choro de mães e pais e a preocupação dos amigos e familiares. E essa parte essencial só estará livre quando todos os que sofreram a mesma injustiça o estiverem.
Mas há liberdade.
Não nos podem tirar o que não se pode dar. E todos aqueles injustamente confinados em alguma cela sentem a inexplicável plenitude de seguir aquilo em que acreditam. Por isso mesmo, não tremem. Mantém-se íntegra a parte essencial dividida por todos nós e que se materializa em nossos ideais. Que importa o corpo, "habemus anima".
Por isso mesmo, foi vital o profundo carinho demonstrado por amigos, familiares, militantes, advogados, escolas e faculdades. Mais vital até que seu efeito – a soltura. Embora tenha sido muito difícil sair sem os demais, por crer que aqueles que sofreram a injustiça do Estado também deveriam ser soltos no mesmo momento, alegrei-me imensamente com a mobilização de todos. Sentirei a mesma integridade ao seu lado, lutando pela libertação de meus companheiros, que sentiria se ainda estivesse com eles. Por isso é minha e nossa, acredito, a busca desses trabalhadores, moradores de rua, ambulantes e estudantes por justiça.
Que essa corrente de afeto e esperança se estenda a todos e permita sua volta às ruas, para protestarem e alegrarem seus entes queridos!
Cabral e Paes, através dos policiais, buscam expressar desesperadamente uma demonstração de força perante a sociedade. Mas só reafirmam sua fraqueza. Aplicar a violência arbitrária do Estado em corpos detidos de manifestantes apenas ascendeu a indignação na alma de muitos mais. O autoritarismo se escancara à medida que a sociedade desperta para a gravidade das violações à democracia que vêm sendo praticadas. A tal ponto que o medo, fomentado pelo Estado para justificar tais violações, é superado em nome da dignidade.
Obrigado e parabéns a todos os entes queridos: amigos, familiares, Ocupa Câmara Rio, Rio na Rua, CEAT, IDDH, OAB, ECO/UFRJ, CARI, IRI/PUC!
Manifestações surtem efeitos, desde que acreditemos juntos e participemos.
Por fim, as famílias e amigos dos que seguem presos devem se manter tranquilos. Fomos bem tratados pelos funcionários enquanto estivemos presos e é mera questão de tempo que todos sejam soltos por inexistência de provas. Torço para que seja o mais rápido possível! Todos dividimo o sentimento de fraternidade que nos une em torno da certeza de se lutar pelo que é justo. 
Bruno, mais um que segue preso, deu o recado:
“Oh mãe, não chore não/
breve, breve to de volta para a manifestação“!
Bom, a ideia desse post foi fazer uma relação entre essa época, tão conturbada e absurda, que nosso país começou a viver há 49 anos atrás, e achávamos que tinha sido superada, com a conjuntura atual da nossa política. Será que a ditadura acabou mesmo? 

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O MÍSTÉRIO DE RUBENS PAIVA


Rubens Paiva

Rubens Beyrodt Paiva (Santos, 26 de dezembro de 1929 — desaparecido em 20 de janeiro de 1971) foi um engenheiro civil e político brasileiro desaparecido durante o regime militar. Rubens é um dos 183 desaparecidos políticos cujo paradeiro a Comissão Nacional da Verdade quer investigar. Pesquisamos algumas fontes que relatam informações sobre o que poderia ter acontecido com o político depois que desapareceu.



Separamos um recorte, de 08.10.1986, encontrado em http://www.arqanalagoa.ufscar.br/ onde Paulo Moreira Leite discorre sobre o mistério em torno desse desaparecimento.

Também achamos uma reportagem da Veja: Marcelo Rubens Paiva e o pai: 'Tormento que não acaba'. Publicada em 21.09.2013, onde o filho de Rubens Paiva fala sobre o sofrimento de pensar em seu pai torturado e também faz uma análise sobre a tortura no Brasil e no Mundo:
No dia 20 de janeiro de 1971, seis agentes da Aeronáutica invadiram a minha casa no Rio com metralhadoras e levaram meu pai, Rubens Beyrodt Paiva, ex-deputado do PTB, cassado pela ditadura em 1964, para a Base Aérea do Galeão. Uma enviada do Chile, a professora Cecília Viveiros de Castro, presa no aeroporto, havia ligado pouco antes para ele, dizendo que lhe trazia cartas e documentos de exilados brasileiros. Meu pai auxiliava, como muitos no Brasil, a fuga de perseguidos pela ditadura, escondia lideranças banidas, socialistas ou comunistas, em casa, ajudava financeiramente estudantes cassados. Como José Serra, ex-presidente da UNE, um maltrapilho esfomeado que perambulava por Paris depois de expulso do Brasil.

Por último, deixamos um vídeo de uma reportagem feita por Miriam Leitão e o jornalista Cláudio Renato para a GloboNews postado no dia 02.03.2012 no O Globo.


sexta-feira, 4 de outubro de 2013

STUART ANGEL: verdadeiro nome do principal torturador é descoberto

Stuart Angel era dirigente do MR-8 e foi preso por
agentes da Aeronáutica em junho de 1971
 
" Pardo, estatura mediana, suboficial. Por mais de quatro décadas, essas foram as únicas informações conhecidas sobre um dos principais torturadores dos porões do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa), que funcionava junto à Base Aérea do Galeão. Presos políticos que estavam na carceragem à época denunciam com frequência a desenvoltura com que o suboficial “Abílio Alcântara”, de codinome “Pascoal”, participava dos interrogatórios sob tortura nas masmorras do Cisa. E dos guerrilheiros que por ali passaram e conheceram “Pascoal”, apenas um jamais saiu: Stuart Angel Jones. O ex-preso político Alex Polari de Alverga denuncia há 42 anos que presenciou o momento em que o amigo foi preso por agentes da Aeronáutica, na manhã de 14 de maio de 1971, em uma região do Grajaú, na Zona Norte do Rio. Entre eles, “Pascoal”.

“Abílio Alcântara”, porém, nunca existiu. Serviu apenas para esconder a verdadeira identidade do sargento Abílio Correa de Souza. Após o cruzamento de depoimentos de ex-presos com informações em bancos de dados nacionais e internacionais, O GLOBO chegou ao verdadeiro nome sob o qual se escondia o agente. Souza chegou a fazer cursos de inteligência de combate e contraespionagem na conhecida Escola das Américas, no Forte Gulick, no Panamá, em 1968. De acordo com o relato dos presos, ele seria o braço-direito do coronel Ferdinando Muniz de Farias, o “Dr.Luis” — homem de confiança do brigadeiro Carlos Affonso Dellamora, comandante do Cisa. Ambos já amplamente denunciados por Alex Polari. "

Notícia publicada em 22/09/13 pelo O Globo

Vem notícia na íntegra em:

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

VALE A PENA SONHAR

A semana de provas praticamente acabou e, para o fim de semana, sugerimos que vocês assistam o filme Vale a Pena Sonhar... Deixamos com vocês a descrição encontrada no You Tube e o link do filme. Vale a Pena Assistir Vale a Pena Sonhar!


""Vale a Pena Sonhar" retrata os sonhos e utopias de uma geração de homens e mulheres que dedicaram suas vidas à luta pela justiça, liberdade e democracia, tendo como fio condutor a história de Apolônio de Carvalho. Sua luta, sem fronteiras, junto aos republicanos na Guerra Civil Espanhola, na Resistência Francesa contra o nazismo e no combate à ditadura militar no Brasil nos anos 60, assim como fatos da vida cotidiana e familiar de militante de esquerda que assina a ficha número 1 de filiação do PT. 

O Documentário mostra a trajetória de uma das mais ricas personalidades da vida social e política do país, percorrendo episódios históricos - como a Insurreição de 1935, a luta pela anistia e a fundação do Partido dos Trabalhadores, além da Guerra Civil espanhola e a Resistência francesa contra a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial -- e revelando motivações pessoais e dramas familiares.

Voluntário das Brigadas Internacionais da Guerra Civil Espanhola e coronel da Resistência contra o nazismo alemão na França, Apolônio de Carvalho foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores no início da década de 1980.

As lutas trouxeram reconhecimento a Apolônio. Por ter sido voluntário nas Brigadas Internacionais da Guerra Civil Espanhola, nas quais combateu de 1937 a 1939, ganhou a cidadania espanhola, em 1996, e participou como convidado, das homenagens que o governo daquele país prestou aos brigadistas, na passagem dos 60 anos da guerra. Na França, foi coronel da Resistência na luta contra o nazismo (comandou ações em Marselha, Lyon, Nîmes e Toulouse) na 2ª Guerra Mundial, recebeu a Cruz de Guerra e o grau de Cavaleiro da Legião de Honra. Na Resistência, conheceu a militante comunista Renée, com quem se casou e teve dois filhos, René-Louis e Raul.


Entre os principais depoimentos colhidos para "Vale a Pena sonhar", destaca-se o de Renée de Carvalho, esposa de Apolônio. Filha de comunistas franceses, Renée participou da Resistência contra a ocupação nazista trabalhando como agente de ligação. Sua irmã e tia foram deportadas para campos de concentração na Alemanha.

René-Louis e Raul de Carvalho, filhos de Apolônio, também estão presentes no documentário. Nascido na França durante a Segunda Guerra Mundial, Rene-Louis em 1968 se engajou na luta armada contra a ditadura militar. Foi preso e exilado no Chile, onde ficou detido no Estádio Nacional, e, posteriormente, na França. Raul, junto com o pai e o irmão, também fez parte da resistência armada em 1968. Ficou preso três anos no presídio de Ilha Grande.

Outros personagens de "Vale a Pena Sonhar" são:

Delcy Silveira (integrante das Brigadas Internacionais que lutaram contra o fascismo na Guerra Civil Espanhola),

Gervasio Puerta (espanhol combatente na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa),

Serge Ravanel (chefe nacional do "Groupe-Franc", chefe regional das FFI - Forças Francesas do Interior e Comandante da Libertação),

Lucie Aubrac (militante da Resistência Francesa, articulou um plano ousado que livrou o marido Raymond Aubrac, um dos principais líderes do movimento, das garras dos alemães, tendo prestado depoimento no inquérito que condenou Klaus Barbie por crimes de guerra),


Jaques Breyton (militante da Resistência Francesa, foi preso pela Gestapo em Lyon, é empresário e vive há mais de 30 anos no Brasil; no final dos anos 1960 foi preso por apoiar a luta armada contra a ditadura militar).

"Condenados à morte como 'irrecuperáveis' pela ditadura militar, banidos no interior mesmo de seu próprio país, isolados da população a que dedicaram anonimamente seus sacrifícios e suas vidas, eram os sobreviventes da VAR, da ALN, da VPR, do PCBR e de outros grupos e organizações. Eram os momentos finais, com equívocos e a coragem da desesperança, de uma luta generosa, toda voltada para nosso povo. Mas, e nisto reside a angústia maior de seu sacrifício, ignorada pelo próprio povo."

"(...) Nesses combates, vencemos às vezes -- o mais das vezes fomos derrotados. Mas todos os avanços civilizatórios arrancados ao capitalismo nesse século, no terreno das liberdades democráticas e no campo das condições de vida da população, foram resultados das lutas do movimento social, com a presença ou sob a direção dos que lutavam pelo socialismo."

Apolônio de Carvalho

(Corumbá, 9 de fevereiro de 1912 — Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2005)"